Em 10 anos, área urbanizada de Fortaleza cresce 50%

Favorecida pelo aumento da renda da população, região ocupada da cidade avançou. Embora tenha lado positivo, expansão gera alerta para recursos naturais por Vanessa Madeira - Repórter Fortaleza cresce por todos os lados....

Favorecida pelo aumento da renda da população, região ocupada da cidade avançou. Embora tenha lado positivo, expansão gera alerta para recursos naturais

por Vanessa Madeira – Repórter

Fortaleza cresce por todos os lados. Na zona leste, bairros como Guararapes, Cidade dos Funcionários e Sabiaguaba ascedem com a construção de prédios de luxo voltados para segmentos mais favorecidos. Em outra região da cidade, pequenos condomínios recém-erguidos atendem à demanda recente de expansão da classe média. Enquanto isso, nas comunidades mais pobres, um só terreno dá lugar a várias moradias, seja acrescentando novas casas nos quintais das que já existem ou criando “puxadinhos”. Com isso, a Capital vai se adensando.

Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicado em julho mostrou que, em 10 anos, no período de 2005 a 2015, a área urbanizada de Fortaleza cresceu quase 50%. Em 2005, a Cidade possuía 264,80 km² de área urbanizada. No ranking nacional, ficava atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e de outras grandes metrópoles do País, como Brasília e Curitiba.

Uma década depois, em 2015, embora tenha caído algumas posições em relação a outras cidades brasileiras, a área urbanizada da Capital chegou a 397,05 km². Desses, 366,69 km² (92% do total) podem ser considerados área densa, ou seja, “de ocupação urbana contínua, com pouco espaçamento entre as construções e maior capilaridade das vias”, conforme o IBGE.

Renda

Os dados do órgão revelam a consolidação de um processo de crescimento iniciado muito antes e possibilitado, principalmente, pelo aumento da renda da população, em especial de classes mais baixas, explica Clélia Lustosa, coordenadora do Observatório das Metrópoles da Universidade Federal do Ceará (UFC), e membro do Laboratório de Planejamento Urbano e Regional do Departamento de Geografia da instituição.

“Fortaleza se adensou em função de políticas habitacionais e da questão da renda, que melhorou nos últimos 10 anos com os programas sociais. Como aumentou a renda, aumentou também a possibilidade de as famílias melhorarem as casas e construírem casas para os filhos”, destaca Clélia. “De um lado da cidade, existem os apartamentos e residências para as pessoas de renda média e baixa e, de outro, aqueles para as classes média e alta”, completa.

A maior ocupação da cidade, seja ela horizontal ou vertical, em áreas favorecidas ou comunidades pobres, teve aspectos positivos e negativos. Com mais domicílios – e consequentemente mais impostos arrecadados – houve redução dos custos para a implantação de infraestrutura na Capital, desde o sistema de transporte até a rede de abastecimento de água. No entanto, o acesso a esses serviços está longe de ser universal.

O estudo do IBGE, elaborado dentro do contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aponta para a necessidade de tornar as cidades mais inclusivas. Na visão do geógrafo José Borzacchiello da Silva, professor emérito da UFC, contudo, para alcançar a meta, é preciso corrigir as distorções existentes no que diz respeito a esse acesso.

Distorção

“Há uma inversão. Temos a melhor fatia da cidade, que é a que tem qualidade de serviços e estrutura, para os que menos precisam. A cidade ainda é extremamente distorcida no que tange ao direito a uma cidade saudável e a habitações adequadas”, diz.

Outro ponto citado pelo geógrafo é que a ampliação da mancha urbana, em muitos casos, ocorreu por meio do avanço sobre os recursos naturais da cidade. Ele destaca que o processo de urbanização de Fortaleza, em geral marcado pelo desordenamento, trouxe consigo o comprometimento de regiões de áreas verdes, dunas, rios e lagoas.

“Além disso, principalmente nas áreas de habitação precária, temos o comprometimento da qualidade de vida no que diz respeito a aeração, luminosidade e acesso, na medida em que a verticalização se dá nesses locais. Em uma cidade como Fortaleza, que já tem uma cobertura vegetal baixa, os ‘puxadinhos’ geralmente ocupam áreas de jardim, de árvores”, ressalta o especialista. “Quando não há verticalização, há a ocupação da área livre pela necessidade de construir uma segunda residência, para moradia agregada”, completa.

Para os próximos anos, segundo Borzachiello, a tendência é que a faixa não ocupada da Capital torne-se ainda mais reduzida. Entretanto, o pesquisador ressalta que uma maior urbanização não significa, necessariamente, uma cidade pior. Segundo ele, isso dependerá da forma que os recursos naturais das áreas ocupadas serão utilizados.

“A tendência é haver uma pressão muito grande sobre as áreas verdes e o próprio campo de dunas. Muitas áreas que ainda não foram ocupadas serão. Mas temos que ter uma área que ainda permita se viver melhor”, diz.

Fonte: Diário do Nordeste