A inovação do investimento social para a Agenda 2030 da ONU

Nathalia Ferreira A pesquisa BISC 2016 mostra o aumento do interesse de empresas e ONGs em alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável através de projetos sociais. Quem atua no Terceiro Setor sabe o porquê da existência...

A pesquisa BISC 2016 mostra o aumento do interesse de empresas e ONGs em alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável através de projetos sociais.

Quem atua no Terceiro Setor sabe o porquê da existência de tantas organizações não governamentais no mundo. Mas quem não vive nesse meio ainda não sabe a importância do papel dessas instituições e tende a desconfiar das causas e dos trabalhos realizados.

Em diversas pesquisas lançadas ao longo de 2016 (como a Pesquisa Doação Brasil, feita pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS – parte 1; parte 2), pudemos ver o motivo da desconfiança e do pouco envolvimento do brasileiro com relação aos trabalhos sociais. E apesar dos números dessa participação ter aumentado, o que é um avanço considerável, ainda estamos distantes de nos tornar um país solidário.

Terceiro Setor, Direitos Humanos e ODS

O Terceiro Setor existe para preencher lacunas deixadas pelo Poder Público. Temos ONGs ligadas a causas como proteção de idosos, combate à violência contra a mulher, adoção responsável de animais, educação, saúde, capacitação de jovens e direitos humanos.

E ao citar Direitos Humanos podemos analisar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), criados pela Organização das Nações Unidas (ONU), e que propõem 17 metas a serem alcançadas até 2030. Essa ação é conhecida como a Agenda 2030 da ONU.

Cada uma das metas pode ser considerada uma forma de garantir os Direitos Humanos. “Os ODS são uma ferramenta que ajuda os gestores, tanto de setor público quanto privado, a investir em ações estruturantes que irão garantir os direitos humanos”, afirmou Yeva Kurazs, agente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

E com tantas iniciativas, será que o Brasil já começou a se planejar para atingir essas metas? Para explicar isso, primeiro devemos fazer uma análise dos investimentos sociais realizados no país.

BISC 2016

A pesquisa Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), realizada pela ONG Comunitas, desde 2008, traça o desenvolvimento desse investimento feito por grandes instituições que são parceiras do grupo Comunitas. Em 2015, foram 325 organizações participantes.

Os dados divulgados no dia 01 de dezembro deste ano mostram que mesmo com a crise econômica brasileira os investimentos se mantiveram no mesmo patamar dos anos anteriores. Mas apenas 36% das empresas conseguiram ampliar seus recursos para a área social.

O crescimento dos investimentos entre empresas e institutos não foi homogêneo. Enquanto na primeira o crescimento foi de 28%, nas organizações não governamentais houve uma queda de 19% com relação ao ano anterior.

No que diz respeito ao setor privado, a utilização dos incentivos fiscais para investimento social teve uma queda de 32%, sendo o pior resultado de todos os nove anos da pesquisa. 43% dos incentivos fiscais foram utilizados para apoiar a Lei Rouanet e 11% foram utilizados para apoiar o Fundo dos Direitos da criança e do adolescente.

O principal foco dos investimentos sociais privados está nas áreas de educação e cultura, representando 35% e 13%, respectivamente.

Novidades do Investimento Social

Apesar da crise econômica e de dificuldades em captar recursos, 60% das empresas e dos institutos que participaram da pesquisa realizaram algumas mudanças nos planejamentos, administração, controle interno, área de marketing e comunicação, adotando novas estratégias para melhor investir na área social.

Entre as mudanças, foi possível verificar a criação de novas estruturas, adoção de novas metodologias, contratação de consultoria, monitoramento, definição de metas, identificação de novas fontes de financiamento, entre outros.

Mais de 50% das empresas e 33% dos institutos estão mudando seus projetos sociais para reduzirem custos e se adequarem à realidade das comunidades que são atendidas. E dentro dessas mudanças está sendo feita a profissionalização das equipes que cuidam do social de cada organização, através, por exemplo, de cursos de políticas públicas e negócios sociais (conhecido como setor dois e meio).

Com essas inovações, foi possível obter a captação de novos recursos e a redução de custos, a aproximação das empresas e das organizações da sociedade civil, o fortalecimento das equipes e a ampliação das frentes de trabalho.

E como ficam os ODS?

Diante de tantos dados positivos nos avanços dos investimentos sociais, podemos ver que muitas empresas já estão se preparando e colocando em prática suas iniciativas ligadas aos Objetivos do Desenvolvimento Social, a Agenda 2030. Aproximadamente, 35% das organizações privadas já utilizaram as metas da ONU como referência para construção das suas estratégias e da gestão dos negócios.

Toda a movimentação de interesse do segundo e do terceiro setor com relação aos ODS é justamente o impacto que essas iniciativas podem gerar no planeta. 57% das organizações consideram esse impacto positivo.

Os projetos que já estão relacionados com a Agenda 2030 envolvem principalmente as temáticas de empregos dignos e crescimento econômico, consumo responsável, parcerias pelas metas e educação de qualidade.

“O ODS comunica uma visão mais estruturante, dialoga com as políticas públicas para o futuro e constrói uma capacidade das empresas e das organizações de enfrentar os problemas da sociedade”, afirmou Sérgio Andrade, diretor executivo da Agenda Pública.

As principais dificuldades para integrar a perspectiva dos ODS aos investimentos sociais são: conseguir que diferentes unidades da empresa se comprometam e apoiem a proposta de incorporação dos ODS nas práticas dos negócios; garantir recursos financeiros para investir em novos projetos; e inserir os projetos relacionados aos ODS como prioridades da empresa.

A percepção positiva que as empresas mostraram com relação à Agenda 2030 é que com essa implementação haverá melhorias das condições sociais, o fortalecimento das relações com as organizações da sociedade civil e a valorização da reputação da empresa. Afinal, a maioria das empresas que têm seu nome relacionado à sustentabilidade e a projetos sociais tendem a ter uma melhor reputação.

“Os ODS e a Agenda 2030 são uma oportunidade para as empresas alinharem seus investimentos, sendo uma oportunidade de novos negócios, porque nós não vamos conseguir alcançar esses objetivos no cenário atual do país sem a participação do setor privado, que é um ator relevante no atendimento dos ODS”, disse Beatriz Martins Carneiro, secretária executiva da Rede Brasil do Pacto Global.

Conclusão

Apesar dos dados positivos dos investimentos sociais e das iniciativas ligadas aos Objetivos da ONU, muitas empresas e instituições de médio e pequeno porte ainda não sabem como fazer essa implementação ou não sabem nem o que são os ODS.

Com relação às grandes empresas e instituições, a pesquisa nos tranquiliza, pois o interesse em contribuir com as metas investindo em projetos sociais tem crescido e tende a aumentar com o passar do tempo. Agora, é preciso repassar todo esse conceito para aqueles que ainda não o conhecem e mostrar a importância da Agenda 2030.

Para dar inicio a essa ação, o Pacto Global lançou, no final de 2015, uma cartilha que auxilia empresas a aderirem aos objetivos. Você pode ter acesso ao arquivo através do link.

A BISC 2016 foi um dos primeiros passos para termos noção dessa evolução e para mostrar que, apesar das dificuldades, ainda há gente querendo mudar não só o nosso país, mas também o mundo.

“A pesquisa traz para o campo das preocupações dos investimentos sociais uma visão mais abrangente, mais articulada com essa estratégia global de sustentabilidade. Os ODS são uma ferramenta para as empresas pensarem em como trabalhar seus investimentos sociais associadas a uma iniciativa global de desenvolvimento social”, declarou Anna Maria Medeiros Peliano, coordenadora geral da BISC.

Fonte: Observatório do Terceiro Setor